Linha 5 Metrô

Porque as obras do Metrô atrasam tanto?

Estação Adolfo Pinheiro em obras (Constran)
Estação Adolfo Pinheiro em obras (Constran)

O Metrô divulgou recentemente um conjunto de dados a pedido de um deputado por meio de um requerimento de informação. Nele há todo um detalhamento de custos/investimentos das linhas e nós do Ferroviando decidimos focar nos dados das obras da Linha 5 Lilás e nos motivos das obras do Metrô atrasarem tanto.

Após tabularmos na mão quase 100 valores e fazemos algumas análises de valores totais, notamos alguns dados interessantes. Por exemplo 82% do custo total são obras civis e desapropriações. Os dados totais são de 2007 até 2018 (parciais até março)

custos totais das obras do metrô

Se colocarmos esses valores “no tempo” temos mais dados interessantes:

  • O auge dos custos em obras civis foi em 2014 e a evolução faz uma bela parábola entre 2010 e 2018. Apesar disso somente uma estação foi inaugurada no ano: Adolfo Pinheiro. Outro detalhe importante é que o tatuzão só chegou em 2013.
  • A maior alocação em sistemas foi em 2017, quando houve a inauguração de 3 estações da linha: Alto da Boa Vista, Borba Gato e Brooklin.
  • Apesar do início oficial das obras da Linha 5 Lilás ter sido em 2011, o investimento pesado em obras civis aconteceu somente em 2012. Estranho? Não. Falemos disso abaixo.

evolucao-custos-linha-5

Podemos também ver a evolução dos gastos com desapropriações abaixo.

Reparem como obviamente as obras civis devem esperar as desapropriações e limpeza dos terrenos para que seja investido de fato nas obras civis. Isso provavelmente explica em parte porquê de somente em 2012 foi investido pesado em obras civis. Tudo deve ser feito sincronizado, o que nem sempre é fácil.

desapropriacoes-linha-5-lilas

Motivos dos atrasos nas obras do Metrô

Todo mundo está cansado de saber que obras atrasam, principalmente as obras do Metrô mas poucos sabem o que de fato acontece para tanto atraso. Assim, o Metrô cita vários motivos para não cumprimento dos prazos e trazemos alguns aqui:

  • Necessidades de desapropriação e consequente obrigação de remanejamento dos expropriados, tanto de moradia quanto de comércio, com acompanhamento do Ministério Público. Nota do Ferroviando: e vários casos ainda entram na justiça por não concordar com o valor pago o que causa ainda mais atrasos.
  • Inexistência ou imprecisão dos cadastros das inúmeras interferências no subsolo da cidade (energia, gás, água pluvial, adutoras, comunicação e outros), grande parte delas identificadas somente durante a execução das obras (por ex: danos a lindeiros).
  • Exigências ambientais que demandam prazos para avaliação dos impactos em todos os níveis, por exemplo: solo, ambiente externo, flora, fauna, social.
  • Tratamento do solo, principalmente em regiões contaminadas (postos de gasolina, fabricas em atividade ou desativadas), áreas de preservação, várzeas que dever ser preservadas ou tratadas. Nota do Ferroviando: o Metrô prefere desapropriar postos de gasolina pois geralmente possuem uma área grande e é apenas um processo de desapropriação, diferente de desapropriar várias casas.
  • Obtenção dos recursos financeiros necessários (tanto do governo do estado como de financiamentos do exterior e que dependem também de autorização do governo federal). Nota do Ferroviando: vejam como até hoje o Governo não conseguiu aprovação do empréstimo da Linha 18.
  • Complexidade das Licitações para altos valores e necessidade das empresas terem a capacidade técnica comprovada para a execução das obras. Nota do Ferroviando: quem contrata alguém sem experiência? além de tudo o Governo só pode contratar empresas com as contas em dia e sem pendências.
  • Interposição de recursos entre as empresas proponentes com julgamento na esfera no Poder Judiciário
  • Integração das obras envolvendo todos os construtores (são dezenas de contratos, por especificidades técnicas e de conhecimento — projetos civis, elétricos, eletrônicos, mecânicos, telecomunicação etc.).
  • Ocorrência de crises financeiras que afetam a arrecadação de impostos de onde saem os recursos para o governo investir em obras e, por consequência, podem interferir nos prazos.
  • Quaisquer questões em nível do Poder Judiciário têm seus tempos para resolução e que não estão sob a gestão de quem fiscaliza ou administra as obras.
  • Trabalhos que geram ruídos (restritos ao horário diurno)
  • Trabalhos que só podem ser executados à noite.

Extensão até Jardim Ângela

No documento também é citado que o projeto funcional da extensão da Linha 5 Lilás até o Jardim Ângela está concluído. Atualmente o Metrô está em “tratativas com a Prefeitura de São Paulo para “viabilizar a compatibilização do projeto da extensão e prosseguir com as próximas etapas

Veja documento completo aqui no site da Assembléia Legislativa

Conclusão

Fato é, todo mundo quer Metrô “na porta” mas não quer ter seu imóvel desapropriado, não quer barulho a noite por causa das obras do Metrô e não quer transito causado por interdição.

A empresa que perdeu a licitação quer entrar com recurso – direito dela – e a que ganhou quer desistir a obra.

Moradores não querem que tirem uma árvore antiga do canteiro central da avenida. Outros não querem estações em seu bairro tendo que assim mudar o projeto.

SABESP não sabia o local exato de uma adutora.

Trilhos de bondes encontrados no canteiro de obras do Metrô.

Entendo que no Metrô muita coisa pode e deve ser feita melhor, mas não é fácil tocar uma obra de grande porte com múltiplos contratos e múltiplos problemas. Sim, há também questões políticas também envolvidas nos prazos, mas não é nosso foco aqui discutir política pois essas discussões são intermináveis.

Além de tudo tem que aguentar o Ferroviando enviando demandas toda hora =)

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Fernando

É engenheiro por formação e entusiasta de obras de mobilidade urbana. Utiliza transporte individual na maioria das vezes mas acompanha e sabe da real e urgente necessidade de investimentos em infraestrutura e principalmente em transporte público aliadas com políticas públicas de redução da pendularidade do sistema de transportes

23 comentários

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  • O problema foi o governador que ficou dando prazos irreais para fins eleitoreiros e criou expectativas na populacao e ainda o q inaugurou o fez meia boca vide linha 15 . Agora qdo e para conceder a operacao a preco de banana ele e bem rapido afinal campanha custa $$$$ Absurdo.

  • Jovem se todos esses problemas são conhecidos, porque então não são dados planos realistas? Entendo os motivos citados mas isso não justifica atrasos de anos, e sobretudo, tantos replanejamentos. Afinal, quando se atrasa a entrega de um projeto uma vez espera-se que sejam refeitos todos os cálculos para acertar com precisão.

    • Sim, não se justifica por completo afinal com o tempo você vai apreendendo. Há fatores que podem entrar no planejamento e outros não. Sobre os plano realistas, ai entra a questão política. Técnicos divulgam um prazo (que ninguém vê, que fica nos relatórios do Metrô) e tem os prazos políticos. Dificilmente eles são iguais. O Ferroviando está aqui para tentar dar mais transparência para as questões técnicas, informações e prazos divulgados pelo Metrô/STM.

  • Gozado, As obras do metro sp começaram em 1968 e em 1975 o metrô funcionava até Santana ou seja, 7 anos de obra em um período onde não se tinha dinheiro ,tecnologia e quase ninguém sabia o que seria o metro e viam os trens da fepasa sucateados

    • Falando assim você desconsidera toda a relação de tempo e trajeto das linhas, a L1-Azul foi construída por meio de abertura de valas sob as avenidas em que ela passa, sem grandes desapropriações, e mesmo assim algumas partes da obra como a Sé não foi inaugarada tão cedo, enquanto a L5-Lilás é construida por meio de shield e passa sob áreas com muitos prédios e um fluxo de veículos bem grande tornando impossível a opção de construir as estações sob as avenidas

  • Me desculpe mas acredito que não é só só isso a China em média faz 50 km de metrô ano, e lá tmbm existem desapropriações , legislações etc, nos falta mão de obra qualificada , tecnologia e claro uma política pública não partidária de crescimento das linhas, fora a corrupção.

    • Meu amigo, lá é uma ditadura do proletariado. É um regime autoritário onde a propriedade pertence ao estado. Para desapropriar é fácil: o estado apenas usa o ponha-se para fora. Acho que é mais real comparamos com cidades próximas da nossa: Cidade do Mexico, Santiago e Medellín.

  • O engraçado, ou triste, é que estes problemas só existem aqui. Faltou elencar os desvios e toda forma de corrupção e propina que cercam estes infindáveis anos à espera do tão sonhado metrô.

  • O problema maior é político mesmo. Basta comparar aos países sérios ou simplesmente a empresas privadas. Quando querem, terminam em dois palitos.

  • Fernando, sabe me dizer quando a linha 5 vai ser inaugurada? O trem nunca chega na Chacara Klabin. Estou cansado de pegar 4 baldeacoes todo dia pra ir trabalhar.

  • O problema maior é político. Se os políticos quiserem as obras saem mais rápidos sim. Não adianta nos perdermos em dados técnicos se não há vontade política.

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